Especialização EaD em Gênero e Diversidade na Escola forma 148 profissionais

11/01/2017 23:15

A primeira edição do curso de Especialização a Distância em Gênero e Diversidade na Escola (GDE), promovido pelo Instituto de Estudos de Gênero (IEG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), financiado pelo Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), do Ministério da Educação (MEC), teve dois anos de duração e acaba de graduar 148 especialistas. O curso, que já foi realizado em duas edições em nível de aperfeiçoamento, com três meses de duração, teve sua primeira turma de especialização, com aulas via plataforma Moodle e módulos presenciais em cinco cidades do estado, com temáticas voltadas ao debate sobre gênero, sexualidades, diversidades, raça e etnia e deficiência.


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Segundo as coordenadoras do GDE, as professoras Olga Regina Zigelli Garcia e Miriam Pillar Grossi, não há perspectiva de oferta de nova edição do curso pelo governo federal, apesar de haver grande procura. “Trata-se de um curso que exige recursos públicos para ser realizado, pois envolve um número significativo de professoras(es) e tutoras(es). Toda semana a coordenação do curso tem recebido mensagens de professoras(es) do ensino público interessadas em cursá-lo”, explicam.

O curso é voltado para profissionais e voluntários que trabalham com a educação. A iniciativa é aplaudida pelas docentes como um espaço de formação por uma sociedade mais igualitária. “A escola é um dos espaços de socialização mais marcantes do viver humano. Com este olhar, o curso visou à formação de professoras(es) da rede pública municipal, estadual e federal de ensino, em gênero, sexualidade, orientação sexual, relações étnico-raciais e deficiências, a fim de capacitá-las(os) para atuarem na educação formal, promovendo a igualdade e equidade, através da articulação e implantação destas temáticas no contexto escolar. O principal ganho é a instrumentalização de multiplicadoras(es) nas temáticas abordadas”, ressalta Olga Zigelli.

As coordenadoras destacam que houve um esforço para que houvesse o mínimo de evasão possível. Miriam Grossi explica que esta edição do curso iniciou-se com 240 cursistas, metade nas proximidades de Florianópolis, a outra metade dividida entre os polos de Concórdia, Laguna, Praia Grande e Itapema, onde aconteciam os encontros presenciais. Houve evasão de 92 estudantes, sendo que cerca de 30 não chegaram a iniciar o curso. “Nós tivemos o compromisso pedagógico com a inclusão e com a não-evasão. Reforçávamos sempre que o curso custa quase R$ 1 milhão para o Ministério da Educação, e quanto menos cursistas se formarem, mais caro vai significar a formação de cada uma(um). Continuar no curso é também um compromisso social”, reforça Miriam.

A pedagoga e formanda do GDE, Aparecida Takigawa, aponta que o curso lhe proporcionou um olhar diferenciado sobre conceitos e a interdisciplinaridade das questões raciais e de gênero. “São informações que abrem os olhos, possibilitam uma formação muito mais abrangente. Não existe formação completa, a ciência muitas vezes deixa de considerar a subjetividade humana. Por isso eu acredito que esse tipo de informação deve chegar a todos(as), não só o educador, mas outros cientistas, os aplicadores das leis, profissionais em geral. Foi um curso muito bom”, elogia.

Durante o curso atuaram como tutores, orientadores e arguidores de TCCs aproximadamente 70 estudantes de pós-graduação, atuando nas 12 disciplinas oferecidas em seis módulos de dois meses cada. O curso foi acompanhado por oito tutores presenciais e aproximadamente 40 a distância. A orientação dos TCCs ficou a cargo desses professores e tutores, além de 75 docentes e pesquisadores de todo o Brasil, especialistas nos temas escolhidos pelos cursistas. Durante as defesas dos TCCs, ocorridas em 10 e 17 de dezembro de 2016, foram mobilizados em torno de 100 professores e pesquisadores para integrar as bancas.

As coordenadoras do GDE destacam que os tópicos do curso, que abordam temas como preconceito, homofobia, racismo e sexismo, foram refletidos em mudanças de postura dos próprios alunos. “Os TCCs refletiram a percepção e mudança de comportamentos, apresentando propostas inovadoras que traduzem o respeito à diversidade humana e a promoção da equidade”, ressaltam. “Trata-se, sem dúvida, de uma experiência exemplar de política pública federal que permitiu uma intensa articulação da Universidade com a comunidade”, destacam.

A professora Raquel Mombelli, que orientou três trabalhos, afirma ter constatado avanços no processo de formação acadêmica das profissionais. “As pesquisas realizadas resultaram desse processo sério e extremamente necessário de produção de profissionais amadurecidos teoricamente e didaticamente, e com capacidade de produção de reflexões refinadas e aprofundadas sobre a temática das relações étnico-raciais, da mulher e da criança negra no espaço escolar, do preconceito e do racismo”, salienta. “Não tenho dúvidas que essas(es) profissionais farão a diferença nos espaços em que estão inseridas, chamando a atenção para a urgência de trabalhos e pesquisas nessa temática e na capacitação continuada dos professores”, complementa.GDE_orient

“O curso existe há 13 anos e infelizmente, a atual conjuntura de desmonte das políticas sociais e e de direitos étnicos e coletivos quase impossibilitou a conclusão dessa edição do GDE. Espero que cursos como esses possam continuar, se proliferar e se fortalecer ainda mais, pois a superação do racismo, do preconceito, da homofobia, da intolerância religiosa, das desigualdades étnico-raciais e de gênero só serão superadas pelo caminho da educação”, salienta Raquel.

Os TCCs estarão disponíveis para consulta no repositório da Biblioteca Universitária da UFSC a partir do dia 1º de fevereiro, e serão também apresentados durante a 13ª edição do Women’s Worlds Congress e 11º Fazendo Gênero, eventos simultâneos promovidos pelo Instituto de Estudos de Gênero (IEG) da UFSC, de 30 de julho a 4 de agosto.

Mayra Cajueiro Warren
Jornalista da Agecom/UFSC